Por Sarah Azevedo

De acordo com o mais recente Inquérito Vigitel, do Ministério da Saúde, apenas 40,6% dos adultos que vivem nas capitais brasileiras (cerca de 49,3 milhões de pessoas, segundo estimativas atuais do IBGE) praticam atividade física dentro do tempo mínimo recomendado semanalmente. Paralelamente, dados do Ministério da Previdência Social mostram que, em 2024, o país registrou quase meio milhão de licenças médicas por transtornos mentais, o maior número em pelo menos dez anos.

A baixa prática de atividade física e o elevado número de licenças médicas por transtornos mentais, evidenciados pelos dados, parecem indicar que, embora a expectativa de vida tenha aumentado nas últimas décadas, isso nem sempre se traduz em melhor qualidade de vida, reforçando a urgência de discutir como não apenas viver mais, mas viver melhor.

Foi com o propósito de fomentar essa discussão que o Sesc Alagoas promoveu, nesta terça-feira (25), o Seminário da Saúde. Realizado em Maceió, no auditório do Ritz Lagoa da Anta, o evento reuniu o psiquiatra Jairo Bouer e o oncologista Drauzio Varella, dois nomes bastante reconhecidos da medicina brasileira, para discutir hábitos de vida, saúde mental e longevidade com um público de aproximadamente 700 pessoas.

O seminário foi aberto à população em geral e teve como entrada solidária um pacote de fralda geriátrica por pessoa. As doações foram recebidas pelo programa Sesc Mesa Brasil, que fará o repasse para instituições sociais que atendem pessoas em situação de vulnerabilidade social.

No início do evento, o público conferiu uma apresentação do patrimônio vivo de Alagoas, Chau do Pife. Logo depois, o psiquiatra Jairo Bouer abriu as palestras, seguido pelo oncologista Drauzio Varella. Ambos compartilharam panoramas sobre a saúde da população brasileira, discutindo os impactos da modernidade na saúde e trazendo reflexões sobre hábitos e qualidade de vida.

Ao comentar sobre a dificuldade que muitas pessoas enfrentam para manter hábitos saudáveis no mundo contemporâneo, Drauzio afirmou: “Nós vivemos num mundo em que é muito difícil manter hábitos saudáveis. A internet e tudo que veio junto com ela só veio para nos fazer trabalhar mais. Ganhamos em produtividade e, teoricamente, passamos a ter melhores condições de vida, mas não sobra espaço na vida para mais nada a não ser trabalho. Passamos a viver sedentariamente. Você fica ali, com a tela do computador na frente, ganhando a vida assim. E essa vida online o tempo todo cobra um preço alto.”

Drauzio também falou sobre o papel educacional da medicina e a importância de promover espaços de diálogo com a população. “Eu peguei uma época em que a ignorância em relação aos problemas médicos era universal. Quando me formei, os problemas eram as endemias rurais. Os meios de comunicação eram muito precários. O telefone não chegava à maior parte dos municípios brasileiros; você contava praticamente só com o rádio. Então, a população não tinha onde se informar. As pessoas não tinham ideia do que eram as doenças, ninguém sabia o que era uma bactéria, ninguém sabia que fumar faz mal. Não havia uma consciência em relação à saúde, e isso também se refletia nas grandes cidades, porque nas escolas não se falava de saúde; os conhecimentos eram muito elementares. E eu sempre achei que informar era uma parte do ato médico, da ação da medicina.”

Assim como ele, Jairo Bouer contou ter a mesma concepção a respeito do exercício da medicina desde o início de sua formação. “Eu trabalho com educação e saúde praticamente desde que saí da universidade, e como é importante, né? A gente poder comunicar saúde para a população. E é muito bacana poder unir esforços e estar com o Sesc neste momento, falando com profissionais de saúde, mas falando também com a população.”

Durante o evento, também foi lançado o podcast “Ativamente”, uma iniciativa do Departamento Nacional do Sesc voltada à promoção do bem-estar e da saúde mental, reforçando o compromisso da instituição com a disseminação de informações e práticas voltadas à qualidade de vida.

Após as palestras, houve um momento de interação com o público, que pôde fazer perguntas aos dois especialistas. Para encerrar, o cantor e compositor alagoano Eliezer Setton fez uma apresentação. Segundo a Gerente de Saúde do Sesc Alagoas, Janaína Valença, o seminário proporcionou uma importante reflexão sobre a promoção da saúde no estado, estimulando tanto a população quanto os profissionais da área a aprimorar práticas e ampliar conhecimentos. “Nossa intenção foi fomentar discussões que permeiam o dia a dia dos diversos profissionais, independentemente do espaço onde atuam. Foi uma grande satisfação possibilitar esse momento tão rico e cheio de aprendizado para todos”, afirmou.